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2016.cloureiro
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Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago Empty Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago

Qui Jan 31, 2019 4:27 pm
Como amante de literatura, sempre tive uma particular curiosidade em ler Saramago, sendo o facto das obras deste tão célebre escritor se apresentarem para tanta gente como um desafio, um grande impulsionador desta referida curiosidade. No entanto, considero que, para realmente entender as obras deste, será necessário um certo nível de maturidade.
    Em “Ensaio sobre a cegueira”, Saramago utiliza o tipo de escrita pelo qual ficou conhecido mundialmente. Este tipo de escrita pauta-se por uma descrição fluida, onde o discurso direto se mistura com o indireto, sendo normal a ausência de recursos típicos do discurso direto, como parágrafo, travessão e aspas, aparecendo este entre vírgulas e começando por maiúsculas. Penso que, como a maioria de vocês deve estar ciente, esta forma de escrever é algo muito característico deste autor e dá às suas obras alguma inconfundibilidade.
    Tal como podemos prever através do título, este livro retrata uma epidemia de cegueira. No entanto, esta cegueira, ao contrário do que é costume, é branca, sendo até mesmo descrita pelo autor como sendo um mar de leite que, tendo tido início num único homem que, naquele momento, se encontrava dentro do seu carro parado num semáforo, se alastra rapidamente por toda a população. Decerto que não será muito difícil imaginar o caos em que o mundo que conhecemos se tornaria se, de repente, todos nós ficássemos cegos, e é exatamente isto que Saramago descreve com tanto pormenor nesta aliciante obra: é a reação do ser humano perante a necessidade, a incapacidade, a impotência, o desprezo e o abandono. Estando toda a gente cega, tornam-se todos incapazes de realizar as suas funções na sociedade, deixando de haver indústria, serviços, eletricidade, água canalizada e, mais importante ainda, não há quem produza e colha alimento. Assim sendo, as ruas transformam-se em grandes depósitos de lixo, dejetos e cadáveres, maioritariamente de pessoas que morreram à fome. Estas condições de precariedade trouxeram à tona o lado animalesco de cada um e, rapidamente, os costumes, a ética, a moral e os valores foram todos deixados para trás.
  Como já fui referindo, esta é uma obra com uma mensagem muito forte, que nos relembra de que na realidade, apesar da nossa racionalidade, os nossos instintos primários e primitivos vão sempre prevalecer em tempos de dificuldade. Por ser tão chocante e genialmente escrita, consegue captar a atenção do autor do início ao fim e, sinceramente, adorei lê-la. No entanto, não é uma leitura propriamente leve, principalmente para os leitores mais sensíveis. Aliás, o próprio Saramago descreve-o da seguinte forma:
"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
    Para finalizar, deixo-vos com uma citação do livro: “Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras”.
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adelebieber
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Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago Empty saramago

Dom Mar 12, 2023 4:10 pm
José Saramago, nascido em 1922 e falecido em 2010, foi um escritor português considerado um dos mais importantes autores da literatura mundial do século XX.
Saramago começou sua carreira literária em 1947, mas o seu trabalho só ganhou destaque internacional, um pouco depois, nas décadas de 1980 e 1990, quando publicou obras como
"Memorial do Convento" "O Ano da Morte de
Ricardo Reis" e "Ensaio sobre a Cegueira".
Saramago escrevia de forma única e inovadora, sendo referência graças a suas técnicas literárias como a falta de pontuação e a ausência de diálogos convencionais, para criar um estilo próprio e inconfundível, e até aos dias de hoje é conhecido pelos seus traços únicos.
Os temas incluíam questões sociais, políticas e filosóficas, e sua escrita frequentemente apresentava um tom satírico.
Em 1998, Saramago recebeu o Prémio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro escritor de língua portuguesa a conquistar esse prestigioso prémio . Ele continuou a publicar romances e ensaios até a sua infeliz morte.
Eu pessoalmente admiro as obras de Saramago, especialmente o “Memorial do Convento”, pelo romance criticar a exploração dos pobres pelos ricos, e a corrupção, essencialmente a corrupção religiosa, admiro também pela riqueza cultural, pelos detalhes, e pelo tom irónico de José Saramago.
A sua contribuição para a literatura mundial é inegável, e sua influência continuará a ser sentida por muitos anos.
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