Humanidade Desumana

Era uma segunda feira como qualquer outra, o dever chamava. Não havia tempo a perder! Fiz-me à estrada bem cedo, pois já é certo e sabido que lá passaria um bom bocado… Tudo parecia igual, o mesmo trânsito de sempre, os mesmos automóveis que todas as manhas passam horas infinitas no alcatrão, os mesmos carros mal-humorados a fumegar e a buzinar; as mesmas pessoas indiferentes, carrancudas, frias, monótonas e sonolentas, que não reparam sequer no carro ao lado… Apenas se limitam a assim permanecer, totalmente apagadas.
Até que tudo mudou, todas as buzinas se calaram e todos prestaram atenção ao rádio que anunciava:”…se estás preso no trânsito sorri para o carro ao teu lado, se ele estiver a ouvir isto sorrirá de volta.”. E não é que dando resposta a um apelo inesperado todos começaram a sorrir e cumprimentar-se!?
A mãe que se enerva porque não conseguirá levar o filho atempadamente à escola pela 3ª vez consecutiva, sorri! O executivo que atentamente analisava as cotações da bolsa impressas num jornal, faz uma pausa, olha para o lado e sorri! O condutor do autocarro de transporte escolar, olha para o condutor do jipe ao lado e sorri! Os miúdos levantam por momentos os olhos dos telemóveis e sorriem! Todos sorriem uns para os outros, sorriem para os passageiros dos outros automóveis, fazem caretas, brincam… A manhã sorri para todos!
Pensei estar a sonhar… como é possível algo tão banal como um sorriso criar um movimento tão grande? Serão estas iniciativas suficientes para restituir a humanidade aos corações dos humanos?
Mas será que as pessoas se voltaram a cumprimentar? Ou amanhã esta humanidade desumana volta ao que sempre foi? Pessoas indiferentes, carrancudas, frias, monótonas e sonolentas…

M. Abrantina