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Resumo e opinião do livro "A Rapariga que Roubava Livros" de Markus Zusak Empty Resumo e opinião do livro "A Rapariga que Roubava Livros" de Markus Zusak

Dom Jan 28, 2024 11:36 am
A Rapariga que Roubava Livros
de Markus Zusak
 
 

 
 
 
Resumo:
 
A Rapariga Que Roubava Livros conta a história de LieselMeminger. A história é narrada pela Morte e apresenta um período da vida de Liesel, desde 1939 a 1945 e depois um bocadinho mais. É contada através das páginas deixadas por Liesel e pelo que o narrador conhece. Passa-se na Alemanha, numa pequena rua de Molching, a rua Himmel (Céu). Uma rua na parte pobre de Molching, onde há fome.

Liesel, quase com dez anos, é levada para a casa 33 da rua Himmel, para ser acolhida por um casal de meia idade, os Hubermann. No caminho para Molching, Liesel vê o seu irmão morrer. Iam no comboio quando tal aconteceu e é nessa primeira vez que o narrador encontra Liesel. Filha de comunistas, Liesel (e o irmão, Werner, também era para ter ido) é entregue pela mãe para ser acolhida por outras pessoas, no desejo de que tenha um futuro melhor, um futuro livre de sofrimento, pelo menos de um menor sofrimento. Apesar de Liesel compreender isso, custa-lhe acreditar e assimilar tal facto. Quem queria mal à sua família? O que poderia estar a causar aquilo?
 
Depois de algum tempo de adaptação, Liesel começa a amar aquele casal: Rosa e Hans. Os dois diferentes, mas com bons corações. Começa também a gostar do lugar e dos seus amigos, nomeadamente RudySteiner, seu vizinho da casa ao lado.
 
Rudy é um rapaz de cabelo cor de limão, praticamente da mesma idade de Liesel e é ele quem começa a amizade, pensando em, um dia, ter algo mais com Liesel. Pede-lhe por diversas vezes um beijo, quase sempre derivado de alguma aposta ou feito ("Que tal um beijo, Saumensch?"). Começa por defendê-la na escola e nos jogos de futebol e também por picá-la para outras atividades. Rudy é, também, um rapaz de enorme coração, pronto para tudo. É um bom ouvinte, bom amigo, bom a guardar segredos. É ainda irmão de mais cinco jovens, rapazes e raparigas, e muito bom aluno. É ainda um grande atleta, cujo sonho era ser como Jesse Owens, o que na Alemanha nazi era estranho, podendo levar a bastantes "reprimendas".

Liesel não sabia ler quando chegou à rua Himmel. Nem escrever. Roubara um livro no funeral do irmão e é a partir desse livro que Hans a ensina a ler e a escrever, adaptando a cave da casa para servir de dicionário (as paredes depressa ficam cobertas de palavras) e para servir de oficina de escrita. Liesel acaba por se apaixonar pela leitura e pela escrita e começa a roubar livros, pois não tinha outra forma de os obter, apesar de ganhar alguns no Natal.
 
Mais tarde, aparece na sua vida e na vida dos Hubermann um jovem judeu: Max. Aparece para ser acolhido e escondido, devido a uma promessa antiga de Hans, feita na Primeira Guerra ao pai de Max. Liesel e Max começam por criar um laço tímido, mas esse laço começa a expandir-se e a amizade nasce de forma bem bonita e ele alimenta ainda mais o amor de Liesel pela escrita e pela leitura.

A história acompanha um período da vida de Liesel, mas não só. Acompanha o início e o fim da Segunda Guerra. Acompanha algumas pessoas de uma rua pobre da Alemanha. Através da vida destas pessoas é possível seguir o decorrer da guerra e das políticas de Hitler: Juventude Hitlariana, as marchas de judeus, as perseguições, os campos de concentração, a repressão pública, a injustiça, a crueldade, a mesquinhez, a repressão da bondade nos corações e as consequências dessa bondade, acima de tudo.
 

Ao longo deste livro é mostrado um outro lado da Alemanha. Um lado pobre, onde muitos se veem na necessidade de roubar comida para não ter fome. Um lado em que há pessoas que estão contra Hitler, mas que não o podem mostrar, se não vão sofrer por isso. Em que há quem sofra pelo mal que o seu país faz. Claro, na panóplia de personagens, também há quem esteja de acordo com tudo o que se faz de mal, mas essa é a realidade. Há sempre os dois lados e há sempre quem apoie os dois lados. A diferença está em que, um lado pode mostrar (e deve) todo o seu esplendor e apoio e o outro só pode esconder o que sente para não sofrer por isso. Várias são as vezes e as personagens que sofrem consequências por se oporem ao sistema e isso é uma das coisas que mais dói ao ler o livro. Porque foi assim, é verídico. Apesar de ser uma história de ficção, a realidade foi assim. É assim. E há que fazer tudo para que não se torne assim novamente. Há lugares no Mundo aonde ainda é assim. Vai sempre haver, infelizmente, e o narrador confronta-se e confronta os leitores com isso: os humanos são assim.
 
 
 
Opinião:

Este livro relata-nos a história de uma rapariga, LieselMeminger, que vive durante a 2ª Guerra Mundial, na Alemanha. A história começa quando ela tem apenas 11 anos e assiste à perda do irmão e da sua mãe, mas também quando rouba o seu primeiro livro. Esta obra é toda ela narrada pela Morte, que se encontrou com Liesel por três vezes durante a sua vida. A Morte é uma narradora bastante interessante: irónica, crua nas palavras que usa, com observações perspicazes e que nos deixam a pensar em determinados momentos da história. A Morte é uma observadora da bondade, da maldade e da indiferença humana, tecendo a sua própria opinião sobre elas mas também deixando espaço para o leitor pensar por si próprio.
 
Liesel é uma rapariga adorável que vai passar por vários momentos marcantes na sua vida e, alguns deles, profundamente dolorosos. O que mais gostei nesta personagem foi a possibilidade do autor ter conseguido contar a história dela de maneira a que o leitor pense que ela é, realmente, apenas uma de nós. Nós também fomos crianças, como ela; pensámos e agimos como ela; tivemos as mesmas curiosidades, os mesmos medos, os mesmos desejos, as mesmas dúvidas, mesmo que tenhamos vivido em tempos completamente diferentes. Além disso, Liesel tem uma particularidade: rouba livros. E todos esses livros marcam uma fase da sua vida, do início ao fim.
 
Vemos o seu processo de crescimento, primeiro estranhando a sua nova família para, aos poucos, se sentir parte dela. O pai, Hans, é o seu pilar, é ele que a sustenta. Ficamos a conhecer a rua onde vive, os seus vizinhos, os seus amigos, as aventuras e sarilhos em que se mete e é tudo tão natural, tão reminiscente daquela inocência infantil que todos um dia possuímos, que nos afeiçoamos facilmente a Liesel.
 
Não esqueçamos que isto tudo se passa durante a 2ª Guerra Mundial. Por isso, ao mesmo tempo vemos Liesel e os seus amigos a juntarem-se à Juventude Hitleriana, as marchas dos judeus a caminho do campo de concentração de Dachau, os vários homens que são levados para e pela guerra, os bombardeamentos, o clima de medo e as necessidades que são vividas por todos. Nesta visão, destaco a importância das palavras, que parecem ser o motivo que une todos os pontos deste livro. É a curiosidade pelas palavras que a leva a roubar livros, são as palavras que não podem ser ditas naquele tempo por serem demasiado perigosas, são as palavras que condenam e as que salvam, as que constroem e as que destroem.
 
Embora tenha-me custado um pouco a entrar no ritmo da narrativa, depois de me habituar foi muito fácil apegar-me a todas as personagens e à história de LieselMeminger. Desde Liesel, ao seu melhor amigo Rudy, aos seus pais, no mínimo, peculiares, ao judeu escondido na sua cave, à mulher do presidente da câmara que lhe facultava livros, todas as personagens são providas de uma humanidade tal que conseguimos sentir as suas alegrias e tristezas.
 
Este é um livro envolvente pela sua narrativa que é, ao mesmo tempo, poética e directa ao assunto, pela galeria de personagens que enriquecem não só o texto mas também o leitor. Porque não ficamos indiferentes a nada, porque ficamos a pensar em todas aquelas personagens que acabam por se tornar reais para nós, porque é difícil desligarmo-nos delas mesmo depois de não haver mais páginas. Penso que a palavra-chave aqui é sentir. Sentimo-nos parte do livro e aquelas pessoas que lá habitam também acabam por fazer parte de nós.


As imagens da história são vividamente contadas e "pintadas". São narradas com pormenor e delicadeza e mostram todo o esplendor que têm para mostrar. Esta é uma história onde há esperança, pelo menos em alguns momentos, onde a guerra está sempre presente, a pairar, mas que não a mostra diretamente. É o pano de fundo, mas há mais do que isso. Há amor, amizade, esperança, palavras, livros...há roubos. Muitos tipos de roubos. Roubos de vários géneros, humanos e materiais. As palavras são outro dos panos de fundo desta história. Tudo gira à sua volta, até a guerra. O que é a guerra senão um ato nascido de palavras? Palavras proferidas por alguém, num determinado momento, num determinado lugar. Tudo é palavra. A palavra está em todo o lado. Se se disser uma palavra que não queira ser escutada, que não possa ser proferida, são logo ditas outras palavras e quem disse a palavra proibida é afastado, é punido. Este é um livro que transmite a força que as palavras têm em todo o lado e em especial na sociedade. As palavras são vida e geram vida, geram atos que as tornam vivas, que as tornam em algo bom e/ou em algo mau. Em algo que acolhe, acarinha e acalma ou em algo que destrói, mata, sufoca.

A forma como o autor compreendeu e expôs esta ideia é genial. MarkusZusak fez aqui um trabalho esplêndido e maravilhoso. Não poderia ter feito melhor, a meu ver. Consegue transmitir completamente o sentido subjacente a toda a guerra, a tudo o que aconteceu. Consegue dar um lado ingénuo da guerra, um lado em que há quem acredite na bondade dos seres humanos e tente por ao de cima essa bondade.
 
A parte gráfica do livro, a organização dos capítulos, títulos e discurso, é bastante boa e complementa muito bem a história em si. Faz parte da história. Existem ilustrações e histórias dentro da história principal que são uma delícia; são mágicas e belas.
 
É muito interessante poder acompanhar a vida destas personagens, especialmente de Liesel e Rudy, e observar a sua distância face à guerra em si, até dado momento, e depois o seu ódio para com Hitler e para com tudo o que a guerra trouxe às suas vidas. Duas crianças que passam a adolescentes e que tentam ser diferentes num sítio onde não o podiam ser. Acolher, amar e alimentar judeus, querer ser como alguém que não é ariano, mas sim negro, ter orgulho em ser bom e em ser contra o sistema, dar algo a quem não tem, mesmo quando nada se tem para dar. É uma mensagem muito bonita que é aqui passada. Uma mensagem diferente da guerra e do que ela provoca nas pessoas.

Mesmo que o final seja como é e que haja uma tremenda melancolia e tristeza nesses momentos, esta é uma história de bondade e esperança. É uma história em que o bem prevalece, apesar de tudo. Mesmo que seja um bem invisível e sussurrado. Há coragem nas palavras e elas podem muito. É só preciso usá-las para as coisas certas, para o bem.

Gostei muito do livro. É fantástico. Todos o deviam ler, pois há palavras nele inscritas que precisam de ser lidas e assimiladas. Precisam de ser postas para fora. Palavras de coragem e de História.
 
Muito bom. Excelente.
 
Aconselho vivamente este livro e é uma história que vai ficar na minha cabeça durante algum tempo.
 
Recomendo sem hesitações.
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