Enxaqueca

Sex maio 19, 2023 1:24 pm

Acordo com uma horrível enxaqueca e o próprio som do silêncio esmaga-me a cabeça. Fecho os olhos, ponho as mãos sobre a minha face e vou para o meu dia.

Entro naquele terrível lugar, tão barulhento, tão cheio de gente. Não há fuga. Procuro uma cara familiar e tu estás sempre lá. Parece que sabias que eu ia aparecer neste exato momento, pois já olhavas na minha direção. A enxaqueca alivia. Abraça-me. Mas nunca o fazes. Sorrio-te.

Sempre que posso, aproximo-me de ti, mesmo sabendo que não faz sentido. Mas tu pareces fazer sentido. Confias sempre na minha última palavra. Nunca pensei que escreveria sobre ti.

Volto para o sítio onde a enxaqueca começa todas as manhãs. A enxaqueca piora. Penso em ti. Acho que não devia. Não sei quem sou. Já soube. Agora não.

Estou ansiosa. A respiração foge-me. Estou a tremer. Pego no telemóvel. Todas as minhas mensagens já foram lidas. Sem resposta. Porquê? Porquê? Porquê? Deito-me, ofegante, na cama e a cabeça começa a pulsar. Mais uma enxaqueca. Vou fazer um café. Talvez ajude.

Nunca há ninguém que tome conta de nós. Por isso, falo sobre ti, em voz alta, a todas as minhas personagens. Sei que posso ser eu. Mas nunca o serei. Se, ao menos, pudesse voltar atrás... Deixar-me-ia ser. Apenas ser.

Agora vivo com esta enxaqueca, que só abranda contigo.
Não é correto.
Não te quero ver mais.
Mas não paro de olhar para ti.
De olhar por ti.
Tu olhas por mim, sem querer.
És o meu antídoto.
Acabaram-se as enxaquecas.